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quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

• TALENTO, PRODÍGIO, SOBREDOTADO E GÉNIO: SEMELHANTES E DIFERENTES, DIVERGENTES OU CONVERGENTES?

O que é o talento? Equivale a um indivíduo dotado de uma habilidade especial muito desenvolvida (talento musical, habilidade matemática…). Depois dos estudos acerca da estrutura factorial da inteligência, ganhou prestigio num termo novo que iria substituir a ideia de sobredotado. Referimo-nos ao de um sujeito talentoso que demonstrava uma capacidade excepcional de alguma atitude e capacidade constituinte de inteligência. Mais tarde, generalizaram-se as habilidades e destrezas específicas.

Em 1998, Castelló Batlle propôs um protocolo de identificação que se extraía dos instrumentos de medida já elaborados, como o caso da BADyG – Bateria de Atitudes Diferenciais e Gerais (teste de pensamento criativo de Torrance): permite diferenciar as distintas formas em que se pode manifestar uma habilidade/capacidade elevada – sobredotação, talento académico, talento não verbal-figurativo, talento verbal, talento numérico, talento espacial e talento criativo.
Este modelo permite identificar alunos sobredotados mas também talentosos segundo a seguinte tipologia:
- Alunos que demonstrem muitos talentos simples ou específicos (referem-se a uma só variável);
- Alunos que manifestam talentos múltiplos2 (referem-se a um conjunto de variáveis)
- Alunos que mostram talentos completo3, (referem-se a um conjunto de variáveis), dentro dos quais podemos encontrar talentos académicos e talentos figurativos;
- Alunos que representam talentos conglomerados4 e que podemos encontrar a combinação da configuração intelectual do talento académico e/ou figurativo com o talento simples. 5
Para além disso, o talento é muito amplo. Existem diferentes tipos de talentos, uns mais específicos que outros. Cada um desses implica dificuldades assim como uma série de vantagens para o individuo. Esses talentos afectam a sua vida em vários domínios diferenciando-o dos restantes, por vezes de uma forma positiva, outras vezes o contrário.
O talento social é um desses. Caracteriza-se por dispor de amplos recursos de codificação e tomada de decisões referidas no processamento de informação social. O traço mais característico predomina na habilidade para interagir com os adultos. Distinguem-se dois tipos de talentos sociais (Gardner): o talento intra pessoal — conhecimento que tem uma pessoa tem sobre si mesma — e o talento interpessoal — capacidade que a pessoa tem para relacionar-se com os demais de forma eficaz. O talento social tem uma capacidade especial para relacionar-se com os outros, para auxiliar um grupo, quer no alcance dos seus objectivos, quer no melhoramento das suas relações humanas. Curiosamente, não existem provas formais para avaliar este tipo de talento. Por isso, recorre-se à avaliação mediante os questionários existentes sobre inteligência emocional, que compreendem tarefas de habilidades sociais e de onde os perfis de ligação podem ser muito úteis para identificar um possível talento social.
A matemática pode ser outro tipo talento. Essas crianças dispõem de elevados recursos de representação e manipulação de informação que se apresentam na modalidade quantitativa e/ou numérica. Representam apenas quantitativamente todo o tipo de informações. As pessoas que possuem um bom raciocínio matemático desfrutam com muito prazer a magia dos números e suas combinações sendo capazes de estabelecer relações entre objectos que outros nem sonham sequer encontrar.

No entanto, a eficácia destes alunos é irregular: é muito elevada nas áreas em que predomina a informação quantitativa, enquanto que na actividade verbal os resultados são muito baixos. Para além disso, tem bastantes dificuldades em socializar. Os possíveis problemas destes talentos podem dar-se a nível da motivação, pois são os alunos que tem grande preferência pelas tarefas matemáticas, o que induz a que depreciem outras tarefas escolares. A avaliação e o diagnóstico podem realizar-se mediante sub-escalas de atitudes numérica e devem completar-se com outras tarefas de raciocínio matemático. O aluno com talento matemático tem que obter uma percentagem igual ou superior a 95%.

No que diz respeito ao talento lógico, a configuração cognitiva é muito semelhante com a do talento criativo, mas a funcionalidade que fazem dos seus recursos é muito mais elevada, visto que influem tantos parâmetros culturais como escolares. As sub escalas de raciocínio lógico são instrumentos adequados para valorizar o seu potencial. Cabe esperar uma pontuação igual ou superior à percentagem de 95.
Respeitante às situações académicas obtêm êxito assegurado sempre que as actividades exijam utilizar os processos de raciocínio dedutivo ou indutivo, os silogismos e também
a manipulação de conceitos abstractos que requerem uma definição precisa. Academicamente não apresentam nenhum problema importante, mas as dificuldades surgem na interacção com os seus companheiros, precisamente pelo rigor que tem para aplicar as normas e regras.
O talento académico é um outro tipo de talento completo no qual se combinam recursos elevados de tipo verbal, lógico e de gestão da memória. Os talentos académicos manifestam uma grande capacidade para armazenar e recuperar qualquer tipo de informação que se possa expressar verbalmente, pois são dotados de uma boa organização lógica. As funções que manifestam são idóneas para os aprendizes formais. Trabalham bem com tarefas verbais, numéricas, especiais, de memória e raciocínio, consideradas todas elas capacidades mentais primárias, necessárias para ter êxito académico. A avaliação realiza-se, ou por atitudes verbais, lógicas e de gestão de memória (deve-se esperar um resultado de 85 de centil nos três factores), ou provas de QI que são medidas adequadas porque estão desenhadas para avaliar este tipo de perfil; um QI igual ou superior a 130 será um critério de corte. Os talentos académicos têm tendência a obter rendimentos muito elevados na escola e facilidade em qualquer âmbito de estudo/ área.
A sua bagagem de conhecimentos e vocabulário é muito mais extensa do que as restantes pessoas da mesma idade, inclusivé dos adultos. No entanto, acabam por passar alguns problemas: tendência para aborrecimento na aula, dado que aprendem muito mais rápido que os colegas e o grau de dificuldade para eles é reduzido; devido ao vocabulário rico e extenso que possuem, junto com os interesses que são mais amplos e diferentes dos seus colegas, a comunicação e intersecção social é difícil; os resultados académicos tão brilhantes que obtêm impelem a uma sobre auto-estima, e, por conseguinte, atitudes depreciativas com os colegas. Estes hábitos não lhes são indispensáveis durante os primeiros anos, mas vão constatando a sua necessidade à medida que se avança nos estudos.

Os alunos com talento verbal são aqueles que mostram uma extraordinária inteligência linguística, que se concretiza numa grande capacidade para utilizar com claridade as habilidades relacionadas com a linguagem oral e escrita. Sabem escutar e compreender. O bom domínio dos instrumentos linguísticos favorece o seu rendimento escolar. A avaliação deste tipo de talento pode efectuar-se com escalas de atitude verbal. É aconselhável utilizar várias para garantida uma exploração completa. Estes talentos obtêm um rendimento académico. A sua interacção social é boa. Não manifestam problemas de aprendizagem nem de socialização, assim como nas áreas de onde possa existir alguma descompensação pode aparecer algum tipo de problemas. Com efeito, na matemática ou na plástica, onde a forma de representação da informação é diferente, podiam aparecer certas dificuldades. São crianças que não apresentam problemas de aprendizagem nem de socialização. Porém, podem trazer algumas complicações nas áreas onde exista alguma descompensação.

No talento artístico-figurativo, a configuração intelectual que sobressai fundamenta-se nas atitudes espaciais e figurativas dos raciocínios lógicos e criativos. Manifestam uma grande capacidade para perceber imagens internas e externas, transforma-las, modifica-las e decifrar a informação gráfica. Os alunos que mostram capacidades visuais manifestam as mesmas habilidades. Este talento é igual ao do académico, é um talento completo cuja interacção dessas habilidades resultam criticas. A avaliação de aptidões distintas deve realizar-se mediante diversas actividades e escalas do tipo figurativo e espacial., de raciocínio lógico e testes específicos de criatividade. Uma percentagem superior a 80% ou 85% resulta um bom ponto de corte. Não há dúvidas que a produção artística pode manifestar-se em diversos campos como a pintura, a escultura, a fotografia e o desenho. Para validar a existência do talento é necessário contar antes de mais com as destrezas de execução ou de utilização dos instrumentos. As implicações educativas deste talento recaem no âmbito extracurricular. Justifica-se pela necessidade de utilizar ambientes fora da sala de aula e do contexto escolar, portanto exige flexibilização curricular e motiva muito o aluno. O principal problema que pode ter este tipo de talento é a nível motivacional. Tem recursos cognitivos suficientes para ganhar uma boa aprendizagem, sendo discreto porque os seus interesses e motivações estão fora da escola. Para além disso, a actividade artística podem propiciar, às vezes, condutas atípicas que podem dar uma aparência estranha a estas pessoas e dificultar a sua socialização.

O talento criativo é simples, na medida em que predomina ma grande capacidade para a inovação. Os talentos criativos são aqueles cujo funcionamento cognitivo manifesta pouca linearidade, mas uma grande capacidade para explorar as diferentes alternativas para resolver problemas, o seu pensamento é dinâmico e flexível e a sua organização mental e pouco sistemática. Cabe esperar que a criatividade não está unicamente associada à produção artística, mas também a um recurso de uso geral, da mesma maneira que se sucede com a lógica. Para avaliar o diagnóstico deste tipo de talento utilizam-se os testes de criatividade. Espera-se uma percentagem mínima de 95%. Preferencialmente, as escalas que não exijam linguagem são uma alternativa também para avaliar a criatividade. No que diz respeito às implicações educativas, estes alunos manifestam comportamentos muito variados, e com certa frequência, são considerados diferentes os restantes colegas. O seu pensamento criativo é muito mais importante para a actividade profissional, porém, não é eficaz dentro do meio escolar e acaba por funcionar como um obstáculo. Portanto, os baixos rendimentos académicos são um traço característico deste tipo de talentos. O seu pensamento criativo serve-lhes para ter uma grande socialização com os seus companheiros. Um dos problemas que têm na escola refere-se a uma maneira de processar, organizar e representar a informação que fazem mediante procedimentos não demasiado escolares, visto que eles não utilizam os processos de raciocínio lógico linear, que são os que apoia a escola, o seu pensamento lateral.
Um outro tipo de talento é a precocidade. A criança precoce apresenta um ritmo de aprendizagem e desenvolvimento de nível superior ao dos colegas da mesma idade. São alunos com maiores recursos intelectuais que os seus companheiros. Com efeito, quando a maturidade termina, a sua capacidade intelectual é normal. A precocidade é mais presente quando a criança é mais jovem. A avaliação desta mesma precocidade efectua-se através de provas convencionais de QI ou testes de atitude. Os resultados de qualquer teste utilizado são superiores aos esperados para as crianças da sua idade.
Quanto às implicações educativas há que orientá-las da mesma forma quer para o talento académico como para os talentos específicos, porque os seus rendimentos são superiores ao dos seus colegas. Com efeito, há que prestar atenção à maturação emocional, esta não tem necessariamente que seguir o mesmo ritmo que a cognitiva. É frequente a discordância intelectual no caso de precocidade intelectual.
Estas crianças têm problemas semelhantes aos dos descritos quanto ao talento académico, para além de problemas de frustração e auto-imagem ao finalizar a sua maturação.

Noutro vértice encontramos o Génio. Genialidade não significa sobredotação. Pode ser definido virtualmente idêntico ao talento mas, antes de mais, inclui um elevado nível de criatividade. O termo “génio” supõe à partida a exigência de criatividade. Os dotes de génio não se atribuem a nenhum talento em particular sem a combinação entre vários factores intelectuais, motivacionais e ambientais. As variações quantitativas, no que diz respeito à média, podem dar resultados combinados qualitativamente diferentes. Socialmente, denominam-se génios aos esperts que trabalham sobre as suas obras e trabalhos específicos, como a arte, escrita, etc. Segundo Eysenk, o génio deve definir-se como um fenómeno caracterizado por um nível de rendimento excelente e criativo, por um reconhecimento social que persiste ao longo do tempo (séculos) e que resulta de distintos componentes que actuam de forma sinérgica (multiplicativa, não simplesmente aditiva) Entre estes componentes destacam-se a elevada inteligência, persistência e criatividade.
Existem duas perspectivas distintas que se predispuseram a definir o termo génio. Por um lado, identificam a genialidade como aquele que obtêm um resultado excepcional (na faixa superior a 180 -190) num determinado teste de QI; por outro lado, aquele que dispõe da capacidade para executar raciocínios e inferências inesperados, somados a uma intuição também muito acima do normal. Isto permite não somente imaginar como também formular e realizar uma obra fundamentalmente original e reconhecidamente de alto valor, são também identificados como génios. Os defensores da primeira abordagem acreditam ser possível medir objectivamente a genialidade enquanto os defensores da outra perspectiva preferem esperar por resultados mais prática e que possuam significância. A história demonstra que muitos génios viveram no anonimato e morreram na pobreza, provavelmente porque não reconhecidos por estarem muito à frente do seu tempo.
Para o neuropsicológico Nelson S. Lima, do Instituto da Inteligência, "o génio é aquele que descobre, inventa ou produz algo de novo e de grande significado e impacto para a Humanidade. Nem todas as crianças sobredotadas serão génios. Mas muitas delas contêm em si as sementes da genialidade". Hoje em dia considera-se que para a genialidade entram em conjugação diversos factores hereditários, sociais, educacionais e situacionais, uma excepcional motivação, um profundo envolvimento numa actividade e uma poderosa autoconfiança.
Todos os autores modernos envolvidos no estudo da sobredotação não consideram apropriado atribuir a palavra génio a crianças, por muito excepcionais que se revelam no seu talento específico. Ela deve ficar reservada apenas a indivíduos cuja obra ou actividade tenha contribuído de forma original e valiosa para o avanço de uma área muito específica do progresso humano. Por isso mesmo, são considerados génios nomes como Voltaire, Goethe, Freud, Einstein, Stravinsky, Gandhi e Picasso, entre outros. No entanto, não há muito tempo, bastava ter-se um QI de 180 para se ter direito a ser reconhecido como génio. Ou seja, esta palavra transmitia simplesmente a ideia de que se possuía uma inteligência excepcionalmente elevada. O psicólogo humanista Abraham Maslow (1908-1970) tinha um QI de 195, facto que levou um seu professor, E.L. Thorndike, a classificá-lo como génio. Consta que, desde então, Maslow, embora inicialmente tivesse ficado lisonjeado com a classificação recebida, passou a considerar o atributo como um triunfo e a gostar que isso fosse revelado em conversas sociais. Génio ou não, a verdade é que Maslow foi uma figura de grande destaque na psicologia do século XX e está entre os fundadores da designada psicologia transpessoal. Anteriormente, no século XVIII, a palavra génio estava reservada aos grandes artistas. O filósofo idealista alemão Immanuel Kant (1724-1804) defendia que “o talento de descobrir chama-se génio. Mas esse nome só se dá ao artista, àquele que sabe fazer alguma coisa, não àquele que conhece e sabe muito; e não se dá ao artista que imita apenas, mas àquele que é capaz de produzir a sua obra com originalidade; enfim, só se dá quando o seu produto é magistral, quando, por mérito, merece ser imitado”. Na cultura contemporânea, e por influência do Romantismo, o génio era, segundo sugere Nicola Abbagnano “a encarnação do Infinito no mundo, mediadores entre o finito e o Infinito, instrumentos da realização ou da revelação do Absoluto.”
Alguns aspectos da personalidade dos génios encontram-se na lista de atributos dos indivíduos que Maslow designou como auto-realizadores. A principal característica dos auto-realizadores é a meta-cognição a qual envolve a capacidade da pessoa maximizar todo o seu potencial. Diz-se então que as suas necessidades (meta necessidades) de realização representam estados de crescimento ou existência em direcção aos quais se movimentam com toda a energia disponível. Para eles, a vida é um desafio empolgante e para vencerem nela aplicam fortes potencialidades como elevada criatividade, capacidade de empenhamento, energia psíquica e uma percepção clara da realidade que os envolve, entre outros.

E prodígio? Será o mesmo que sobredotação? Segundo a maioria dos dicionários significa “pessoa extraordinária pelos seus talentos”. O conceito de prodígio, na linguagem popular, é sinónimo de maravilhoso, espantoso e até sobrenatural. Uma criança prodígio é geralmente aquela que nos maravilha com o seu talento ou a sua virtuosidade em algum campo muito restrito de actividade (música, escrita, desporto, etc.). Segundo Ellen Winner, por exemplo, uma criança prodígio "é simplesmente uma versão mais extrema de uma criança com sobredotação, uma criança tão sobredotada que actua em algum domínio com o nível de um adulto".
Não faltam exemplos na história da Humanidade: Mozart e Rossini que já criavam composições musicais inéditas na infância; Reshevsky e Capablanca, no xadrez; Gaus que aos 10 anos elaborou a teoria dos chamados números primos e as séries algébricas, etc.Apesar da precocidade e da deslumbrante capacidade de execução das crianças-prodígio o que também acontece é que nem sempre elas são capazes de manter o seu nível na vida adulta remetendo-se para um vida de anonimato e vulgaridade. Normalmente, esta situação deve-se a factores tão diversos como a falta de incentivo, de apoio ou de oportunidade. Muitas vezes a família não vê qualquer interesse na capacidade da criança e é a primeira a desinteressar-se. Às vezes a família não consegue oferecer-lhe as condições de que ela necessita para exprimir a sua "arte". Outras vezes é a escola que vai a pouco e pouco retirando espaço de manobra à criança talentosa.

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