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quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

CONFERÊNCIA SOBRE SOBREDOTAÇÃO

Na quinta-feira, dia 17 de Novembro de 2006, pelas 11h00, no auditório da reitoria da universidade de Coimbra foi realizada uma conferência sobre a sobredotação e as várias formas de poder ser pensada e observada.
Esta conferência contou com a participação de 4 apresentações de diferentes temas por profissionais especializados, todos eles trabalhando em áreas que implicam sujeitos sobredotados. Nestas quatro abordagens, o tema geral de base referia-se à selecção de pessoas sobredotadas: quais os critérios, os factores, a possibilidade de erro, o que poderá distinguir a existência de um sobredotado, consequências, como se fazer, agir, entre outros.
A conferência deu início com o Professor Doutor José Maia, da Faculdade de Desporto, na Universidade do Minho. Trabalha com crianças e jovens que praticam desporto, fundamentalmente na área do futebol. O seu tema de abordagem teve como título: “ Crianças e jovens talentos desportivos, afinal onde estão e como estão?”.
Considera que é severamente complexo seleccionar um jovem com a certeza de que o seu futuro irá de facto ser promissor. Afinal, onde está o jovem atleta de sucesso? Existem termos semelhantes para “descobrir” esses jovens talentos e sobredotados. Por exemplo, a chamada “detecção” de talentos, isto é, um prognóstico de um conjunto de sujeitos que podem vir a tornar-se talentosos, concedem assim uma possibilidade de ter esse conhecimento a curto prazo. Ora, na sua opinião, esta noção é criticável, na medida em que não existe um “detéctometro” para saber se o sujeito é ou não alguém com talento. O professor explicou que esse prognóstico é duvidoso, visto que quando a informação é longitudinal, não é necessariamente igual para todos. Não podemos ter a certeza de que um sujeito tornar-se-á talentoso daqui a 20 anos. Em tom irónico o Professor Doutor José Maia afirmou que existem sujeitos que julgam ter um “olhómetro”: são indicadores de natureza observada para poder indicar jovens com sucesso posterior, por palavras comuns acontece quando o treinador observa um jogador e afirma “ Cheira-me que este rapaz tem futuro”. No entanto, esses observadores não são videntes, nem podem ter certezas. Existam treinadores de sucesso que podem possuir esse tal “olhómetro”, porém, nenhum deles aprendeu teorias de detecção do sinal/nível, avaliação psicomotora, etc. Portanto, não procuram causas objectivas.
Na estatística de dados retirados de uma investigação, verificou-se que o referido “olhometro”, é de facto, maioritariamente utilizado: a chamada observação causalista.
Muitas vezes nem sempre os talentosos são logo escolhidos, porque o “olhómetro” falha. Não há sempre a decisão certa. Pode acontecer um falso negativo ou um falso positivo (considerar que alguém é talentoso quando não é ou vice-versa), que pode levar a um problema complexo. Qual será o mais vantajoso, é uma das questões que o professor deixou em aberto.
Há uma tendência para considerar que um sujeito com talento é alguém acima da média, não é univariado. Sendo assim, surge novas dúvidas: no espaço multivariado onde se coloca o correcto? O certo de decisão? O talento será contínuo ou discreto?
Uma decisão implica sempre predições, em termos de existir ou não futuro (“ fica ou não fica?”, por exemplo). Existe um problema de decisão, e esta, quando tomada de forma errada, pode provocar um problema grave no sujeito em questão e/ou da família que o apoia, principalmente devido à consequência das expectativas. Isto porque há uma certa tirania naqueles que decidem. Afinal, são esses o responsáveis pela entrada ou saída do jovem, sem nunca explicar aos seus pais o porquê disso. O que os pais pensam nas situações de expulsão podem ser várias como, “o meu filho não sabe tudo! O treinador é que tem de ensinar!” ou “Porque não o escolheu?”.
Esta tomada de decisão dos treinadores ou profissionais de desporto responsáveis pode também ser comparável com os clínicos, médicos e psicólogos. A sua decisão pode ser relativa, subjectiva e incerta.
Deste modo, é inevitável questionarmo-nos sobre a existência de um melhor método que permita chegar a uma decisão objectiva e com mais certezas. A decisão/previsão actuarial poderá ser a resposta. É algorítmica, mecânica e matemática, implica sempre mais de duas ou três opiniões, é objectiva, concede informação concreta, executa previsão probabilística, utiliza modelos matemáticos, para além de trabalhar com estatística sofisticada. Esta teoria esteve em debate com cerca de 80 anos de existência. O problema retinha-se no conceito de prontidão desportivo-motora: tentar identificar a resposta ao treino e à competição. A concretização deste factor é bastante árduo e complexo: o nível maturacional, o crescimento, a sua entidade cultural condiciona o sucesso, melhoramento e futuro do sujeito, porque tudo isso é relativo de pessoa para pessoa. Na ausência de todos estes factores, torna-se difícil justificar a decisão de ficar ou não se esta é relativa a um treino específico que pode não ser adequado.
Um outro ponto que deve estar bem assente é o facto de que as crianças não são iguais mas sim diferentes. Foi exibido pelo professor um exemplo de três crianças com exactamente 14 anos e meio. Pôde-se constatar que o físico e a maturidade são diferentes de indivíduo para indivíduo. Portanto, é necessário haver programas correctos, e planificações da prontidão desportivo-motora. Para se treinarem jovens avançados maturacionalmente existem programas específicos.
Por outro lado, é necessário pensar sobre os próprios treinadores: usam testes motores e um perfil de configuração para descrever os sujeitos. O problema regressa para o número de vezes que se erra na decisão. Ao verificar os resultados, segundo uma função discriminante, pode-se muitas vezes concluir que nem todas as decisões foram acertadas: normalmente, alguns sujeitos que deveriam ter sido seleccionados não o foram. Isto sucede-se devido às diferenças de maturidade e desenvolvimento, apesar da idade ser exactamente a mesma entre todos.
Neste sentido, foi realizada uma investigação para verificar quais seriam os factores que dão mais relevância numa avaliação. Concluiu-se que, quando acontece uma verdadeira mudança no sistema de competência, isso está interligado com a planificação da época, que é perspectivada pelo treinador. Esta atitude faz com que na prática, se encontre em oposição com a acção dos jogadores.
Por conseguinte, quando queremos de facto seleccionar de uma forma mais acertada e objectiva, devemos ter em consideração os genes. A genética pode confirmar a existência de talento, segundo algumas teorias. Nos estudos dos anos 60, em Itália, foi executada uma investigação que concluiu que de todos os desportistas italianos, existia uma percentagem elevada percentagem quando estes eram gémeos, principalmente monozigóticos. Acontece também uma grande percentagem que confirma que os talentos podem descender das gerações anteriores da família. Existirá, portanto, uma linhagem?
O Doutor deixou-nos assim uma perspectiva diferente sobre a selecção de talentos, quer sob os jogadores e as suas expectativas, quer sob os treinadores e os responsáveis pela selecção. Demonstrou que existem formas mais objectivas de selecção, e não apenas a observação ou intuição.
Seguidamente, passamos para a segunda intervenção, com a Professora Doutora Helena Rodrigues, do Departamento de Ciências Sociais em Lisboa, licenciada em Ciências Sociais e Humanos.
O tema abordado foi relacionado com a música. O objectivo da Doutora consistia em desfazer ideias pré-feitas, sobre talentos musicais.
Por conseguinte, deve-se começar pelo uso da palavra em si. Por exemplo, houve uma altura em que a palavra talento musical caiu em desuso, passando a usar-se outras. No entanto, a verdadeira comunicação é de ordem musical. A comunicação expressa-se através do comportamento e do tom de voz. Logo a palavra não é o mais importante. Não é a preocupação com a palavra que leva a outras interpretações. Porém, é necessário utilizar uma, e a mais adequada, não corresponde a talento, mas sim aptidão musical: é a mais correcta, porque a aptidão existe e diferencia os sujeitos logo após ao nascimento, embora seja por vezes difícil descobrir logo à partida.
Uma outra ideia pré-feita corresponde à noção de uma inteligência Musical. Não há uma mas sim várias. Por exemplo, pode existir uma interligação entre Marta José Régio e um músico de Jazz: ambos são compositores, mas fazem musicas completamente opostas.
Segundo a Doutora, é importante evidenciar o facto de que a inteligência musical é inata e não hereditária. Ela nasce connosco e tem de ser estimulada se não vai sendo perdida. Deve-se estimular desde o início porque em pequeno o cérebro da criança que funciona como uma “esponja” : assimila muita mais informação, e consegue desenvolver mais rapidamente as actividades, neste caso, a aptidão. Aos nove anos as estruturas neurológicas estabilizam e aí já se torna mais lento o desenvolvimento.
Na selecção de crianças com aptidão musical, os profissionais contam como factores fulcrais para a sua decisão, o aspecto rítmico (“compasso”, tempos) e o aspecto tonal (som). Se um indivíduo é muito bom numa destas áreas, não é tão bom na outra. No entanto, existem outros factores que devem ser considerados e que muitas vezes são esquecidos. Há que somar a estes dois aspectos, a motivação, o gosto, a inteligência musical, entre outros.
Existe um teste de selecção entre os 6-10 anos. Para além do aspecto tonal e rítmico, existem outros aspectos mais complexos. Este teste não implica categorias teóricas. Isso é o desempenho musical.
Para além destas noções, a ideia de criatividade ou incriatividade musical tem também de ser clarificada. Há que desfazer um lugar comum: “ a musica é óptima para porque desenvolve a matemática/o português”. Isto é uma ideia completamente errada. Portanto, quando afirmam que a musica é muito vantajosa para desenvolver a criatividade, isso é criticável. Isto justifica-se porque o aluno, maioritariamente limita-se a imitar o professor para poder aprender. Na realidade, a criatividade corresponde a uma recombinação de elementos. Antes de poder ser capaz de inferir ou ser criativo temos de ter vocabulário. Depois podemos “rearrumar” o vocabulário. Mas há atitudes que podem estimular a actividade. Porém, a música não desenvolve a criatividade, oferece é material para criar algo criativo. Em suma, a criatividade depende da leitura de cada um, da sua essência.
Para finalizar, a Doutora desfez a ideia pré-feita de excelência musical/carreira musical. Aptidão musical é diferente de desempenho. Por exemplo, num teste, pede-se a uma criança para cantar uma música, para decidir se tem ou não um futuro promissor. Ora isso é muito diferente de criança para criança. Umas podem vir com a música ensaiada de casa, outras podem já ter estudos musicais, outros tem mais motivação, foram mais estimulados, entre outras situações.
Em conclusão podemos verificar que existe uma especificidade própria em cada ser humano. Devemos ir á procura de diferenças individuais.
Seguidamente, deu-se início a uma nova intervenção sobre “ sobredotação, perícia e meta-desenvolvimento”, pela Doutora Eduarda Coquete, da Universidade do Minho.
Começa por demonstrar o conjunto de definições que descobriu ao procurar o significado de crianças sobredotadas. Primeiramente, definiam-nas como alguém que possui um desempenho superior em relação aos outros, superior à sua idade. Actualmente, a ideia de sobredotação é diferente. Logo, chega mais rapidamente do que outros a um dado nível de desenvolvimento de uma idade superior, que chegam na idade normal. Ganha conhecimento mais rapidamente. Mais tarde, quando adulto, é considerado génio, alguém com mais conhecimento do que os restantes. Portanto as palavras criatividade, capacidade acima da média e interesse forte sobre determinadas tarefas enquadram-se na definição de sobredotação.
Mas, quais serão as causas do seu incremento, ao longo do tempo, no sujeito sobredotado? A resposta assenta fundamentalmente no meio e na cultura. O meio nem sempre permite desenvolver a sobredotação. O meio pobre remete-os para obstáculos, ausência de motivação, criando uma paragem de sobredotação.
Uma outra forma de se seleccionar crianças sobredotadas é através do desenho. Deste método, ressaltam muitas dúvidas: saberão classificar um desenho de uma criança? Um desenho, permite, efectivamente, detectar a presença de sobredotação? Por uma pesquisa feita pela Doutora Eduarda, foi demonstrado que certas pinturas e técnicas contemporâneas ou futuristas, podem assemelhar-se a desenhos efectuados por crianças de 3,4 anos e que nestas são consideradas “rabiscos infantis”, e nos adultos, uma obra de arte. Pôde-se constatar também que existem técnicas de épocas mais anteriores que as crianças também utilizam. Estes exemplos foram demonstrados através de pinturas e desenhos apresentados pela Doutora. De facto, ao compararmos, observamos semelhanças. Isso deverá ser ou não um critério de selecção? A mudança de tempos, não altera os critérios de selecção de sobredotação? Como deveremos considerar estas igualdades? Ficaram assim, estas questões em aberto.
Seguidamente, conclui afirmando que a sobredotação tem por todas as razões apresentadas anteriormente de se encontrar constantemente actualizada no tempo. A mudança de épocas, de formas e estilos de vida, novo meios de olhar para o mundo, mudam as pessoas e por isso também a avaliação sobre as sobredotação. È necessário actualizar, pois a cultura e educação levam a resultados diferentes.
Por último, decorreu a intervenção final, pela Doutora Sara Baía, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa, coordenadora do ANEIS ( criatividade artística), com a comparticipação do artista João Moreno.
“ O talento para apreciar talento”, foi o tema abordado, sendo introduzido com uma analogia do historiador de Teseu e Procustes.
O talento e a criatividade são considerados como enviesamentos culturais e científicos. Especificando, podemos constatar que, culturalmente, o talento pode ser quantificado. No que diz respeito a uma especificidade científica, ao falarmos de talento, tentamos simplificar os factos, reduzindo os conceitos. Quando, na generalidade destas características, encontramos os erros, derivam daí duas possibilidades: uma simplicidade (básica) ou/e uma complexidade (quando, numa distribuição normal, se encontra acima da média).
Relativamente às premissas existem duas ideias: primeiro, “o tudo ou nada”. Por outro lado, a consideração de que a inteligência é necessária no talento, para a adaptação. O que acontece é que hierarquizamos. Há um mito de igualdade.
Portanto não há nada absoluto. Talento e criatividade são semi-determinados, influenciados por múltiplos factores. A expressão de talento depende do potencial e de dois conjuntos de catalizadores: os pessoais e os ambientais.
Falamos assim de uma abordagem sistémica: a pessoa soma-se ao domínio e ao campo. Dito de outro modo, só o meio determina, facilita e cataliza o talento.
Um estudo explicado pela Doutora, revelou, segundo ela, a necessidade de valorização. Esta produz-se por motivação interna. Por isso deve-se simplificar o complexo, que nos impede que nos desenvolvemos enquanto sociedade.
Para finalizar, foi-nos apresentado um exemplo: a cigarra, a formiga e os representantes de inteligência e criatividade, através das imagens de Wechsler. Conclui dizendo que a criatividade é uma qualidade pessoal e que a inteligência é um processo que se pode desenvolver.

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